Mesmo pólo do imã repele

Carlos corria na via – mas não via
Maria passando batom
Carlos corria na via – mas não via
Maria passando, passando...

Era quinta-feira e o céu estava azul. Ela, cansada e com planos demais, corria para tudo estar perfeito pra quando ele chegasse. Imaginava recitais, fotos, vídeos e cartas. Ele, cansado e com planos demais, não captava todos aqueles sinais. Quando uma mulher demonstra suas intenções sem resposta, não adianta, ela não vai explicar.
As manifestações óbvias foram ficando mornas, levadas em banho-maria. Ela chegava às quintas, botava a bolsa no chão e preparava seu banho. Suas vaidades viraram exceção. Ela, cansada e com planos demais, segurava o choro e criava uma barreira, uma nova barreira, e se agarrava em tudo que ainda existia. Muito ainda há, muito ainda se sente, ela só não entende onde tudo foi parar.

- Vai, vira essa mesa e volta pra cá.
- Não posso, tô presa nessa esperança.
- Esperança de quê?

- Da intensa felicidade.

Mariana foi pro mar

Era noite. Mariana sentia a brisa do mar chamando. Ficava na areia olhando a lua beijar o mar e sentia sede de alcançar o céu. Pela vigésima nona vez resolveu nadar no mar. Estava feliz. Nadou, deu braçadas de tamanha força que nem percebeu que não saía do lugar. Estava frustrada, pela vigésima nona vez a maré a traiu. Voltou à beira e sorriu para todos a sua volta. Por dentro não havia mais nada. Mariana via a areia sugando sua mocidade e vontades. Mariana ama a praia e não pode mais sair dali.

Chuva que demora

Não passou um dia de sua vida que ela não lembrasse do sal daquela lágrima. De cada folha, cada traço e curva. Não passou um dia que ela não lembrava da chuva e sorria. Aquela tormenta que passou foi especial demais para passar batido. Enquanto ela ia embora, o amor gritava dentro das grades (ele gritou em todas as partidas). Hoje mais calmo, sente apenas saudade de momentos que não voltam. O barulho da goteira, o molho de pimentão, as moedas para a volta, a eterna conquista. Era um carinho, um amor ingênuo e solitário. Um querer bem que caminhou até não ter mais força.  Não viveria tudo de novo, foi sofrido demais. Talvez se o roteiro fosse controlável eu teria mudado algumas falas e diminuído os atos. Teria me deixado no papel protagonista e saído de cena antes do aplauso emocionado de uma plateia fantasma.

Sempre te quis bem. E continuo querendo. Bem. Mas longe da minha história.

Melissa e a corte

5 passos pra esquerda...
5 passos pra direita...
atravesso pelos triilhos, não há mais tempo. Há pouco espaço, há muita gente. Tenho que romper o lacre no momento exato pros miolos não explodirem. Doses homeopáticas de surtos e ataques de pânico.

Melissa entra na sala, mas o silêncio é a única alma que presencia. Nem seus passos ela ouve, embora estivesse com salto. Ela só ouve seus pensamentos ficando cada vez mais alto, multiplicando e sendo reproduzidos ao mesmo tempo.

Procura uma garrafa de vinho, mas só tem rum. Foda-se, isso deve servir. O sofá estava coberto por uma camada espessa de poeira, mostrando que há tempos nenhum ser humano passava por ali. Era um templo de ratos e memórias. Era uma parte da sua cabeça que ela relutava em visitar. Sabe como é, vim parar aqui pois a solidão tava doendo, precisava conversar.

Por um segundo, sentiu calor. Era o medo daquela febre. Dava pra sentir seus sussurros cada vez mais perto de sua nuca. Era a febre percorrendo cada poro de sua pele, alertando as sensações mais nojentas que sentira certa vez. Melissa acabara de lembrar o motivo que a fazia evitar tal ambiente. Lembrou do gosto daquela bebida proibida, do trago macio e da cor vermelha escorrendo por sua pele devido à ponta afiada. Ela sabia de cada detalhe - basta fechar os olhos que tudo fica tão nítido quanto realidade. O que ela viveu ainda tão menina a marcou profundamente, ao ponto de estar impossibilitada de construir novos vínculos.

Existem cantos da memória em que deixamos a porta aberta, mas por mais que tentamos trancá-los, as fechaduras não querem. Tem horas que a porta abre, e deixa um vento com cheiro fétido tomar o ar. Sabe aquele embrulho no estômago, falta de ar e suor sem explicação? Sim, há motivos pra isso - talvez tão profundos e dolorosos que sejam apenas impossível de dividir com outra pessoa.

Não julgue Melissa, ela apenas tem vontade de ser feliz.

Ode à nostalgia

Se ele me faz falta? Faz. Aquelas noites eram bem divertidas e ilícitas, me fazia sentir viva.

Ela olhava para a foto já amassada e ainda podia ver o brilho daqueles olhos verdes. Era nítida a saudade de viver intensamente, e cair no precipício. Na boca, um mix de vinho, vodca e cigarro. A neblina proibida a envolvia, ela sorria. Aquela aventura com data marcada pra acabar fez o seu coração voltar a bater.

Se eu viveria tudo de novo? Não. Mas que é bom relembrar o que vivemos, ah isso é.


A saga de Cida


É com os olhos em lágrimas que ela escreve. O coração esfarela mais que sequilho de venda de estrada. Cida está prestes a pular do precipício.

O que é família?


O que significa família para você? Genética, amigos, amor. Família pode ser saudade, pode ser ligações de madrugada, conversas por email ou um almoço de domingo. Para cada um, há um significado.

2012, o ano que parei de beber


foi um ano de 5 meses. Dias longos, semanas infinitas. Foi um ano sem dinheiro no bolso, saúde faltando, amigos ausentes.

Calei mais. Amei mais. Escrevi menos.

foi um ano de 5 meses. Acho que cresci alguns centímetros – e com isso, a responsa cresceu junto. Ausência, carência e altos níveis de colesterol.

Falei mais. Amei muito mais. Escrevi menos.

foi um ano de 5 meses e poucas horas. Minutos intensos e olho no olho. Eu me achei no teu colo e dele não saio mais. Mês de maio faz isso, fazer o quê...

foi um ano de 2012 dias, 2012 litros de álcool a menos.

Sorri mais. Dormi mais. E sigo te amando.