A saga de Cida


É com os olhos em lágrimas que ela escreve. O coração esfarela mais que sequilho de venda de estrada. Cida está prestes a pular do precipício.


De onde está, o ar é rarefeito e há muito barulho. Vozes, daqui e do além. Seu pensamento é no maior volume, ela não consegue dormir bem. Ela não consegue comer bem. Ela não consegue viver bem.
Cida quer fazer as malas. Olha pro guarda-roupa e constata que tudo ali já não serve ou virou trapo. Nada combina ou a reflete. Mas, que ela é? – ela pergunta ao espelho que, enigmático, resolve anedotas que não são de seu interesse. Até esse filho da puta me deixou.

Sentiu sede e se lembrou do último ml que existia em sua casa – era um uísque velho e mal conservado, mal dava pra suportar o cheio. É o que tem pra hoje. Só faltava um cigarro e uma ponta de estilete, aí sim seria perfeito.

Cida não sentia mais nada, nem sequer as lágrimas mornas que molhavam o rosto e só não manchavam a pele pois ela não curtia maquiagem. Era a única máscara que dispensara por toda sua vida. Ela tinha tantas armaduras que sua pele podia passear livre por aí.

A chuva começa e carrega consigo uma manhã cinza. Puta que pariu, segunda-feira. A anestesia não fez efeito de novo. Ela toma um banho, coloca qualquer roupa e vai pra sua rotina de merda, enfeitar sua vida com sorrisos pré-fabricados. Um dia ela se joga e some. da vida. 

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