Melissa e a corte

5 passos pra esquerda...
5 passos pra direita...
atravesso pelos triilhos, não há mais tempo. Há pouco espaço, há muita gente. Tenho que romper o lacre no momento exato pros miolos não explodirem. Doses homeopáticas de surtos e ataques de pânico.

Melissa entra na sala, mas o silêncio é a única alma que presencia. Nem seus passos ela ouve, embora estivesse com salto. Ela só ouve seus pensamentos ficando cada vez mais alto, multiplicando e sendo reproduzidos ao mesmo tempo.

Procura uma garrafa de vinho, mas só tem rum. Foda-se, isso deve servir. O sofá estava coberto por uma camada espessa de poeira, mostrando que há tempos nenhum ser humano passava por ali. Era um templo de ratos e memórias. Era uma parte da sua cabeça que ela relutava em visitar. Sabe como é, vim parar aqui pois a solidão tava doendo, precisava conversar.

Por um segundo, sentiu calor. Era o medo daquela febre. Dava pra sentir seus sussurros cada vez mais perto de sua nuca. Era a febre percorrendo cada poro de sua pele, alertando as sensações mais nojentas que sentira certa vez. Melissa acabara de lembrar o motivo que a fazia evitar tal ambiente. Lembrou do gosto daquela bebida proibida, do trago macio e da cor vermelha escorrendo por sua pele devido à ponta afiada. Ela sabia de cada detalhe - basta fechar os olhos que tudo fica tão nítido quanto realidade. O que ela viveu ainda tão menina a marcou profundamente, ao ponto de estar impossibilitada de construir novos vínculos.

Existem cantos da memória em que deixamos a porta aberta, mas por mais que tentamos trancá-los, as fechaduras não querem. Tem horas que a porta abre, e deixa um vento com cheiro fétido tomar o ar. Sabe aquele embrulho no estômago, falta de ar e suor sem explicação? Sim, há motivos pra isso - talvez tão profundos e dolorosos que sejam apenas impossível de dividir com outra pessoa.

Não julgue Melissa, ela apenas tem vontade de ser feliz.

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