Alice no País da Ficção

Mentir assim só ela sabe. Joga palavras ao vento com naturalidade, convicta de que o que diz é realmente verdade. Ela veste um decote, perfuma o rosto, pinta os olhos e anda por aí em busca do alvo perfeito. Quando encontra, faz a sua presa acreditar em todos os passos, pistas e segredos que ela espalha no ar...
Certa noite, andando pela chuva, encontrou um alvo fácil. Faceira, chegou perto, olhou nos olhos da vítima, e antes que pudesse perceber, estava envolvida num caso. Embora apaixonada, suas histórias irreais alimentaram todo aquele jogo divertido.Os dois se amavam no meio da semana, num quarto de hotel sem nenhum requinte. Não ligavam pra isso, o que importava era o envolvimento das palavras e o toque dos corpos quentes. Pediam vinho depois de horas de amor, e já embriagados, recitavam poemas, como se a cena fosse combinada.
Passaram-se meses, ela se deu conta que inventou uma história sem fim. Nem sempre estavam juntos, mas quando se encontravam, era aquele mundo que importava. Ele, também faceiro, entrou na dança, e ajuda a moça a construir esse emaranhado de cenas que saem das cabeças confusas desse casal fictício.

- A paixão destrói a razão.
- Mas constrói boas histórias e alimenta um sentimento estranho.
- Amor?
- É segredo...

Um comentário:

Leandro disse...

Nossa, muito bom! Adorei o título e todo mais.

Parte preferida: "Não ligavam pra isso, o que importava era o envolvimento das palavras e o toque dos corpos quentes".

Você é muito talentosa, Ana Domingues!

Beijos.