Olhou no espelho e viu o
rastro negro daquela lágrima que demorou cair. Tremia, temia o próximo ato.
Atuava até dormindo e agora sentia na pele as consequências de cada personagem.
Havia travado, nada sentia – coração anestesiado.
Sentia vontade de andar,
correr, sumir. Vontade de sair de si. Era saudade de tempos, da facilidade de
esconder-se em olhares. Agora, as personagens riam e faziam a atriz pagar por
cada peça mal atuada, a artista da vida viva mentiras, alimentava-se de vazios,
preenchia seu buraco com tragos e goles de melancolia e paixões mal resolvidas.
Agora ela olha o espelho e
não se vê. Fecha os olhos e enxerga seu interior escuro e viscoso. Queria poder
sentir algo. Frio, calor, felicidade, paixão, tesão, amor. Nada sentia além da
lágrima borrando a maquiagem barata no rosto, olhou no espelho e se calou.
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