Acho
que me distanciei de você. Ainda não encontrei os motivos que saí pra procurar.
Prefiro estar longe pra ser imparcial em relação a nós dois. Talvez seja
covardia, um medo de te ver (será?), de ter certeza de que todas as minhas
indagações estão corretas e que o mundo não acaba em 2012. Você sempre soube o
que havia depois do abismo, foi você quem o construiu – eu simplesmente pulei
para libertar nós dois. Caí inúmeras vezes, mas recuperei todos os ossos
quebrados, olhos roxos e lágrimas de dor. Sim, ficaram cicatrizes grandes,
feias e gordas – mas sem elas não me lembraria de tudo o que você me fez passar
(você nem imagina o tão ruim que fiquei), todas as decepções, asco e vergonha de
mim mesma por não poder esconder toda a dor que saía pelo sangue escorrendo
pela pele. Tá, ainda não me orgulho do que fiz (e nunca vou me orgulhar), tem
hora que da vontade de ir atrás de ti e gritar todas as merdas que entalaram na
garganta, desfigurar seu rosto com um estilete, dar as costas e ir embora igual
você fez. Prefiro amassar cada insulto e deixar passar a raiva – são dez anos
espremendo as frutas d’agonia que é viver com você na memória, mais dez anos pra
finalizar o serviço não vai fazer diferença pra mim. Não vou mentir, dói (não
como antes, mas dói). Dói por rever as cenas e não entender como me deixei
levar todas as três vezes que tentei finalizar olho no olho e nada causou
efeito. Sei que essa é uma daquelas cartas que você jamais lerá até o fim – nem
sequer passará pelo começo – mas não me importo. Escrevo pensando em ti e sei
que algo vai causar no teu ser. Não te desejo nada de mau, nem de bom – não te
desejo nada. Deixo apenas para ti o vazio em meu peito, a cratera que, talvez,
será preenchida um dia.
Ela
não assinou. Dobrou o papel e passou pela fresta da porta. Virou-se e partiu,
para sempre.
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