Regresso-acaso


Voltou a tempo de dizer o que queria dele. Mesmo que distante, mesmo sem olho no olho, mesmo sem tocá-lo, disse tudo o que pensava.
Falou durante horas ao telefone. Ele, mudo do outro lado, não entendia o porquê daquela ligação repentina às 2h da madrugada.
Ela chorou, gritou, sorriu, sofreu. Bebeu grandes goles de vodka enquanto falava. Desligou sem que ele pudesse dizer algo.

No dia seguinte, ela acordou tarde e não foi trabalhar. Sentiu falta de algo que a inspirasse, que tirasse o fôlego, o chão, o vazio de dentro do peito.
Bebeu o restante da garrafa e, já bêbada, ligou novamente. Ninguém atendeu.

Ele também não fora trabalhar. Pensava nela, nos seus enigmas, naqueles olhos de esfinge que tinha, nas modulações da voz sempre indecifráveis. Ele não sabia se ela estava acompanhada ou sozinha, se teria ligado por engano. Caminhou até o bar que inúmeras vezes a encontrara alegre, pediu um conhaque. O gosto forte da bebida o fazia lembrar daquele beijo inesquecível que ela tem.

Ligou, ela não atendeu.

Ao acaso, qualquer dia, quem sabe ela volte pra você. Mas, se quiseres vê-la antes, procure, olhe por todas as mesas de todos os bares, ligue, grite. Talvez ela atenda ao seu chamado.

Um comentário:

ZéDiCisso disse...

TOC TOC...