É, dói. Arranha, sangra, reparte os miúdos e leva embora toda a lágrima que ele poderia chorar. O sangue escorre, e modifica a temperatura da pele, faz um desenho vermelho na tatuagem azul.
Forma uma pele fina, uma cicatriz prestes a estourar.
Uma parte dele virou bolha de sabão, qualquer coisa que encoste, faz a pele se partir e o sangue escorrer novamente.
Naquela noite ele cansou de revestir sua pele na camisa grossa. Dirigiu durante horas. Anoiteceu. Chegou na porta do quarto, ainda tinha a chave, entrou sem bater.
No sofá, ela bebia compulsivamente. O maço de cigarros estava pela metade. Olhou pra ele com aquele olhar sarcástico, respirou fundo.
- Quer um gole?
Gargalhou por cinco minutos.
Ele permaneceu ali, na porta, com os olhos marejados. Olhou em volta, sentiu pena de si mesmo. Sentiu o cheiro da vodca, seu corpo todo tremeu. Fechou os punhos, deu passos fortes e rápidos até o sofá. Bebeu do gargalo, e o líquido rasgou a garganta, mas anestesiou sua dor.
Os dois se amaram por 3 horas seguidas. Amanheceu.
No dia seguinte, ele cortou os pulsos. Nunca ninguém percebeu que ela era a culpada por toda a dor que ele sentira.
De manhã ela levantou, trocou de roupa, rastejou a língua pelos pulsos já gelados e sussurrou para o morto:
- Quer mais um gole?
Levantou e saiu de cena, definitivamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário